Apropriação da atividade turísticas em ambientes naturais: Um enfoque no Parque da Cachoeira dos Pretos de Joanópolis/SP
A
atividade turística tem sua vertente principal na apropriação da atratividade
dos destinos, seja ela inserida no meio ambiente natural ou urbano. No meio
ambiente natural, em especial, a atividade necessita de um enfoque cauteloso,
versando sobre o impacto da visitação, bem como os rastros deixados por seus
visitantes.
Nesta
conjuntura o objetivo deste paper
position é realizar uma explanação argumentativa sobre a atividade
turística desordenada no meio natural, assim como as suas características e sua
apropriação, tendo como objeto de estudo o Parque da Cachoeira dos Pretos,
situada na Estância Turística de Joanópolis/SP.
A
Estância Turística de Joanópolis insere-se em uma Área de Proteção Ambiental
(APA) Piracicaba/Juqueri Mirim e, situa-se no estado de São Paulo, sendo
pertencente a Região Bragantina e município limítrofe de Piracaia/SP, São José
dos Campos/SP Vargem/SP, Estrema/MG e Camanducaia/MG (LIMA, 2008, p. 19).
O
município possui dois geossistemas, Mares e Morros e Mantiqueira, é
caracterizado por possuir belíssimas paisagens, bem como inúmeros atrativos
naturais e, além disso, possui traços e manifestações culturais arraigadas dado
o seu histórico de constituição (LIMA, 2008, p. 20).
Dentre
seus inúmeros atrativos, o Parque da Cachoeira dos Pretos destaca-se por ser o
principal atrativo turístico natural da Estância Turística. Com cerca de 154
metros de queda d’agua a cachoeira forma em seu percurso inúmeras piscinas
naturais propícias para banho e contemplação e além disso, o Parque, por sua
vez possui ampla infraestrutura de apoio ao turista, bem como sanitários,
estacionamento, quiosques, restaurantes, lojas e outros bens e serviços (SOLHA,
2003, p. 98).
O
Parque da Cachoeira dos Pretos situa-se a 18 km do centro de Joanópolis, o
acesso é feito por uma via que foi pavimentada no ano de 2007. Inserido em uma
propriedade particular, a porção na qual localiza-se a Cachoeira dos Pretos faz
parte de uma Unidade de Conservação, caracterizada por uma Área de Proteção
Ambiental, ou seja, permite o uso sustentável do espaço (SOLHA, 2003, p. 88).
Dado
a potencialidade atrativa do parque, inúmeros turistas visitam com intuito de
desfrutar de sua beleza cênica, mas sobretudo refrescar-se em dias de
ensolarados de temperaturas altas. Destarte, o município atrai correntes relevantes
de turistas nos fins de semanas, feriados e férias.
Entretanto,
observa-se que o Parque da Cachoeira dos Pretos possuí uma ocupação turística
desordenada, a começar pelos serviços turísticos existentes no local, como por
exemplo o restaurante intitulado “Restaurante Cachoeira” ter sido construído a
pouco menos de 5 metros do rio cachoeira.
O
perfil dos turistas, em sua maioria, diverge dos princípios ecoturísticos. Uma
vez que dado a massificação do ambiente, os turistas procuram os espaços com o
intuito de usufruir do espaço para banho e fazer uso dos outros bens e serviços
existentes no Parque (MASSA, 2012).
O
ecoturismo surge como uma atividade intitulada de não-predatória da sua base
principal de recursos que é a natureza e, assume a alternativa de geração de
renda para as comunidades que são dependentes dos recursos naturais, mas, que
fazem uso de modo a não prejudicar o ambiente e, tem como principal vertente a
contemplação da paisagem (PIRES, 2012, p. 74).
Desta
forma, os turistas que visitam o ambiente natural da cachoeira não possuem a
preocupação em minimizar seus impactos e, também, não buscam refletir sobre a
ocupação desordenada existente no ambiente e os impactos negativos que a
atividade turística pode estar ocasionando a curto, médio e longo prazo.
Além
dos impactos negativos que estes turistas ocasionam no ambiente natural, bem
como o pisoteio da vegetação e a produção de lixo que acaba sendo deixada no local,
cabe ressaltar, que as condutas de alguns turistas são imprudentes quando se
refere aos ricos existentes na Cachoeira dos Pretos (BUNI, 2015).
Por
conta da massiva visitação na parte baixa da cachoeira ou talvez pelo espirito
aventureiro de alguns visitantes, a Cachoeira dos Pretos apresenta alguns ricos
de acidentes para os visitantes mais exploradores, uma vez que dado a altitude
de cachoeira, bem como a presença de briófitas nas rochas, por conta da
umidade, as rochas ficam escorregadias, ocasionando assim quedas dos menos
atentos.
A
ocupação massiva também aumenta o risco de acidentes, isso porque as pessoas
ficam sentadas nas rochas e impedem que outras pessoas se apoiem para transitar
no espaço, ou seja, ao ocupar caminhos mais acessíveis restam aos demais
turistas os caminhos mais íngremes e perigosos de acesso a cachoeira.
Os
ricos de queda por conta da imprudência e pela a ocupação descabida do ambiente
natural apresentam-se como fatores corriqueiros dos dias de alta temporada.
Entretanto, o Parque da Cachoeira dos Pretos também foi palco de acidentes
fatais.
Cerca
de vinte e três pessoas, entre idosos, adultos, adolescentes e crianças já morreram
ao tentar explorar os lugares menos apropriados da cachoeira. Uma parte
considerável dos acidentes fatais ocorreram na parte alta da cachoeira, por
conta da imprudência dos visitantes que não respeitaram os limites do ambiente
natural (LEITE, 2014).
O
risco de acidentes, bem como a visitação desordenada ocorrente no Parque da
Cachoeira dos Pretos e a falta de segurança, resultou em uma nota do poder
público municipal de Joanópolis que dissertou no site Portal Serra da
Mantiqueira que não recomenda a visitação na Cachoeira dos Pretos, sendo que
este é o principal atrativo que mais recebe fluxos turísticos e movimenta a
economia da Estância Turística (BUNI, 2015).
Deste
modo, levando em consideração a apropriação do ambiente natural pelo turismo, é
possível afirmar que os turistas que frequentam o Parque da Cachoeira dos
Pretos estão isentos de políticas de mínimo impacto e, sobretudo, não prezam em
respeitar os limites do meio natural, características essas que refletem na
personalidade do atrativo, ou seja, as condutas dos visitantes transformam o
local.
Assim,
deve-se prospectar cenários nos quais os turistas sejam conscientizados para
entrar no meio natural e não o meio natural alterado para receber os turistas.
Basicamente, entende-se que a transformação não deve ocorrer no espaço natural,
mas sim na consciência dos turistas que visitam (PESSOA e RABINOVICI, 2010, p.
109).
A
conscientização, por sua vez, pode ser realizada por meio de ações de Educação
Ambiental, versando sobre os princípios do leave
no trace e salientando a importância da preservação e do uso sustentável
dos recursos naturais de tal modo que o uso no presente não altere o uso no
futuro.
Portanto,
embasado na apropriação de uso turístico do Parque da Cachoeira dos Pretos,
entende-se que a forma em que o destino é utilizado poderia e pode ser
transformada a partir de ações de Educação Ambiental com os seus
frequentadores, pois são os mesmos que transformam a localidade. Além da
Educação Ambiental visando o uso alternativo do Parque, a mesma pode ser
utilizada para prevenir os visitantes em relação aos ricos de acidentes
existentes.
Assim,
bem como ocorre no Parque da Cachoeira dos Pretos, muitas das ocupações
predatórias de turistas nos ambientes naturais podem ser interpretadas pela
falta de conscientização ambiental de seus frequentadores, ou, por simplesmente
falta de gestão e fiscalização dos órgãos competentes.
Referências
BUNI, C. Prefeitura de Joanópolis busca melhor
segurança e menor impacto ambiental na temporada de verão na Cachoeira dos
Pretos. Portal da Serra da Mantiqueira. 11 de mar. de 2015. Disponível em
<http://www.portalserradamantiqueira.com.br/prefeitura-de-joanopolis-busca-melhor-seguranca-e-menor-impacto-ambiental-na-temporada-de-verao-na-cachoeira-dos-pretos/#comment-396>
Acesso em: 03 de jan. 2016.
LEITE, L. Final de ano no camping do Zé Roque. A
gente vai de mochila. 15 de jan. de 2014. Disponível em
<http://agentevaidemochila.blogspot.com.br/2014/01/final-de-ano-no-camping-do-ze-roque.html>
Acesso em: 03 de jan. de 2016.
LIMA, R. T. de. Percepção e cognição de problemas urbanos
por adolescentes de Joanópolis. Rio Claro: Unesp, 2008.
MASSA, K. Escalaminhada na Cachoeira dos Pretos.
Mochileiros. 22 de dez. de 2012. Disponível em
<http://www.mochileiros.com/escalaminhada-da-cachoeira-dos-pretos-joanopolis-sp-t77055.html>
Acesso em: 03 de jan. de 2016.
PIRES, P. dos S.
Um contexto para o ecoturismo. In: __________. Dimensões do ecoturismo. Senac: São Paulo, 2002, p. 29-77.
PESSOA, M. A;
RABINOVICI, A. Inserção comunitária e as atividades do turismo. In: NEIMAN, Z;
RABINOVICI, A. (Org.). Turismo e meio
ambiente no Brasil. Barueri: Manole, 2010, p. 105-123.
SOLHA, K. T.
(org.). Plano diretor de desenvolvimento
turístico de Joanópolis. Prefeitura Municipal de Joanópolis. Joanópolis:
USP, 2003.
Publicado na Edição de Março da Revista Bragantina On Line: https://issuu.com/diegodetoledo/docs/revista_bragantina_-_mar__o_-_2016
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