Casa que reapareceu com a diminuição da água |
As
terras altamente férteis do local permitiam as famílias viver da agricultura e
da pecuária. As inúmeras olarias espalhadas resumiam a importância e a alta
valorização do barro do Jacareí.
Cruzando
por essa terra rica existiam duas estradas, uma ligando Joanópolis a Piracaia e
outra ligando Bragança Paulista a Joanópolis. Ambas sinuosas e margeadas pelos
rios tendo em cada curva uma barricada para evitar que as águas a inundassem.
Antiga Estrada Joanópolis\Piracaia |
Os
moradores locais já conheciam o potencial da região e em futuro bem distante já
se acreditava e se falava no seu represamento.
E
um dia esse futuro tão distante se tornou realidade. As pouco mais de mil famílias já sentiam que o
seu fim estava próximo. E para fomentar ainda mais essa ideia, por volta de
1975 é iniciada a desapropriação pelo advogado da Sabesp, munido no Decreto-Lei
nº 3.365, de 21 de junho de 1941. (MORAIS, 2010, p.70)
Nível do Rio Jacareí |
Alguns
proprietários, com um pouco mais de instrução, vendo uma apreciação maior das
propriedades com algum tipo de agricultura começaram a plantar para aumentar o
valor de suas posses.
Entrada de uma antiga propriedade |
Embalado
pela briga na justiça e pela falta de documentos que comprovassem a pose da
terra, muitos proprietários ainda não receberam o valor prometido e esperam a
decisão judicial para receber a indenização. (MORAIS, 2010, p. 93)
Então
a sonhada benfeitoria do Governo se concretizou, a construção da maior represa
do Sistema Cantareira. As maquinas vieram, cortaram as árvores e boa parte da
vegetação para que a mesma não consumisse o oxigênio da água. Algumas casas
foram demolidas pelos próprios proprietários, outras foram inundadas.
Restos de Construção |
A
construção da represa foi uma das grandes propulsoras do turismo municipal, uma
vez que mais de dez pousadas foram instaladas ao seu redor e os hospedes e
turistas praticavam o turismo de aventura, turismo náutico e turismo de pesca.
Além da bela vista ser o cartão postal do turismo ela foi utilizada para
aumentar a especulação imobiliária.
Na
época a região da Serra da Mantiqueira já era denominada como sertão, dado pelo
período de estiagem e de grandes chuvas. A última seca foi no ano de 2001, que
fez renascer parte das estradas perdidas.
Pequenas poças que compõe o atual nível da represa |
Já
a seca mais atual está acontecendo neste instante, uma das piores da história. Em
virtude disso o tema da 7º Semana do Meio Ambiente de Joanópolis teve como tema
a seca. Movidos pelo caráter histórico, ambiental e social do vale, foi agendado
uma caminhada no sábado de manha (07/09), conduzida pelo técnico e engenheiro
ambiental Diego Toledo.
Por
mais incrível que possa parecer às estradas que cortavam essa região no passado
ressurgiram, e com elas todas as lembranças do passado emergido pela água.
A
estrada renasce como se o tempo não estivesse corrido, as antigas pedras,
antigas pontes e antigas barragens ressurgem como se nada tivesse acontecido,
como se não tivesse passado mais de 30 anos do seu desaparecimento. Com a seca
ressurgem as antigas cercas, muros, pastagens, portais de propriedades, casas e
vestígios de construção.
Um
erro histórico, ambiental e social não seria apagado facilmente como se nada
tivesse ocorrido. A seca evocou as lembranças desse período, mexeu na ferida
que não se cicatrizou e trouxe a outras problemáticas.
Na
tese de mestrado da então Professora Me. Marta Aparecida de Oliveira de Morais
ela conclui com a seguinte reflexão:
O
país exige que a sociedade se prive, muitas vezes de seus territórios, de seus
valores históricos, afetivos e culturais, em favor do desenvolvimento
econômico. A construção de represas tem como objetivo atender um grande número
de pessoas, porém uma minoria tem que “abandonar” seus “lugares” em favor dessa
maioria; o grande problema está na troca de benefício, no qual muitas pessoas
nada receberam em nome desse desenvolvimento, ou ainda aguardam a decisão da
justiça para receber indenizações. (MORAIS, 2010, p. 93)
Área que era toda coberta por água |
Fazendo
uma analogia ao campo aberto a espera de chuva está à memória das antigas
famílias, que possuem uma ferida aberta a espera de respostas e soluções.
AGRADECIMENTO
Gostaria de agradecer a
Professora Me. Marta Morais que com grande empenho me auxiliou e me enviou a
sua tese de mestrado que possui como titulo “O Sistema Cantareira e a análise
de impactos socioambientais da construção da represa do Jaguari-Jacareí, São
Paulo.”. Tal apoio foi essencial para construir essa matéria.
Também gostaria de agradecer ao Técnico
e Engenheiro Ambiental Diego Toledo por conduzir o grupo até a antiga estrada,
e pela riqueza de informações de caráter histórico, ambiental e social do
local.
Matéria Publicada na Revista Bragantina On Line.
MORAIS,
M.A.O. O Sistema Cantareira e a análise
de impactos socioambientais da construção da represa do Jaguari-Jacareí, São Paulo. 2010. 105p. Dissertação de
Mestrado. Pontifica Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
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